A tragédia envolvendo um adolescente de 14 anos, que matou os pais e o irmão, em Itaperuna, interior do Rio de Janeiro, trouxe à tona uma discussão urgente sobre o impacto da internet e das redes digitais na formação emocional de jovens.
O caso, que segue sob investigação, aponta para a possibilidade de que o crime tenha sido motivado por um impedimento dos pais a uma viagem. O jovem queria encontrar a adolescente de 15 anos com quem tinha um namoro virtual, residente em Água Boa, no Mato Grosso. Eles se conheceram através de um jogo online, e mantinham contato frequente desde então.
A polícia localizou uma bolsa com roupas, pertences pessoais e os celulares dos pais, o que levantou a hipótese de que o jovem estaria se organizando para deixar a cidade após o crime.
A jovem com quem ele mantinha relacionamento à distância também foi ouvida pelas autoridades, que aguardam resultados da investigação para determinar se ela sabia dos planos ou teve algum envolvimento.
Outro detalhe revelado é que, após cometer os assassinatos, o adolescente acessou o celular do pai e pesquisou como retirar valores do FGTS de pessoas falecidas. Ele teria encontrado R$ 33 mil disponíveis, o que indica uma possível intenção de se beneficiar financeiramente.
Durante o depoimento, o garoto afirmou ter tomado energético para ficar acordado e aguardou que a família estivesse dormindo antes de atirar. A arma utilizada era registrada no nome do pai.
Embora o inquérito ainda não tenha sido concluído e questões sobre o estado mental do jovem estejam sendo avaliadas, especialistas têm chamado atenção para o papel central que o ambiente digital pode exercer sobre crianças e adolescentes sem supervisão adequada.
A juíza Vanessa Cavaliere, responsável pelo projeto “Eu Te Vejo”, da Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro, alerta que a internet, quando acessada de forma livre por menores, pode representar um risco significativo.
Ela também lembra que é comum adolescentes se envolverem emocionalmente com desconhecidos por meio de jogos e redes sociais. “A gente tem visto muitos casos de adolescentes, meninos e meninas que acabam se envolvendo com pessoas estabelecendo relacionamentos afetivos online e muitas vezes até fogem de casa para encontrar essa pessoa com quem eles mantêm essa relação virtual, né?”, comentou.
Vanessa ainda reforça que o controle dos pais deve incluir atenção à classificação etária dos jogos acessados. O pediatra Daniel Becker também aponta para os efeitos nocivos da exposição intensa ao ambiente virtual. Ele destaca que esse universo, muitas vezes, é dominado por estímulos inadequados, violência e conteúdos extremistas.
“Esse universo é muito violento, muito brutal, muito cheio de fantasias, de extorsões, golpes, bandidagem, ideologias”, explicou. “Os meninos, por exemplo, recebem muito conteúdo de violência extrema, inclusive, ataques à escola, fazendo apologia, inclusive, de assassinar.”
Para Becker, é fundamental que famílias ofereçam experiências no mundo real e incentivem a construção de relações sólidas fora do meio digital. O pediatra também defende o fortalecimento dos laços afetivos e a convivência familiar como forma de reduzir os efeitos danosos da vida online.